Manifestações da COVID-19 em exames de imagem
Está claro que a COVID-19 é uma doença que acomete vários órgãos do corpo humano, com predileção para o trato respiratório, sobretudo os pulmões.
O processo fisiopatológico das manifestações da COVID-19 nos pulmões pode ter início pela expressão dos receptores da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2). Ela é um receptor de entrada para o vírus, que, por fim, pode desencadear a instalação de síndrome respiratória aguda grave.
As manifestações da COVID-19 nos exames de imagem podem aparecer já na fase inicial ou em fases mais tardias da doença. Como manifestações na TC de tórax, pode-se ter opacidades em vidro fosco, consolidações, e menos frequentemente derrame pleural ou pericárdico.
Sabe-se que o vírus pode acometer vários órgãos e tecidos, gerando inúmeros danos no organismo, e este artigo tem como objetivo falar um pouco mais sobre as representações desses danos nos exames de imagem.
Manifestações comuns da COVID-19
A COVID-19 é conhecida pelo fato de ser uma doença que causa problemas respiratórios. Também, ela também pode apresentar manifestações como:
- Disfunção miocárdica;
- Arritmia;
- Síndrome coronariana aguda;
- Lesão renal;
- Lesões gastrointestinais;
- Lesão hepatocelular;
- Hiperglicemia e cetose;
- Doenças neurológicas;
- Sintomas oculares;
- Lesões dermatológicas.
Manifestações cardíacas
A COVID-19 gera efeitos prejudiciais no sistema cardiovascular. As complicações podem incluir:
- Lesão miocárdica;
- Arritmia;
- Tromboembolismo arterial e venoso;
- Choque cardiogênico;
- Parada cardíaca.
Dessa forma, pacientes que possuem doenças como hipertensão, obesidade, diabetes, entre outras, estão mais expostos e são pacientes de maior risco.
Cerca de 20 a 30% dos pacientes internados podem ter lesões miocárdicas. Essas lesões estão associadas a doenças mais graves e também a uma taxa de mortalidade maior.
Um bom exame para avaliação do miocárdio (músculo cardíaco) e sua função é a ressonância cardíaca, ficando sua indicação a critério do médico assistente.
Manifestações neurológicas
A COVID-19 também causa lesões neurológicas, gerando sinais, sintomas e sequelas, tais como:
- dor de cabeça;
- alteração do nível de consciência;
- Epilepsia;
- acidente vascular cerebral; (AVC);
- perda de memória
Quando o paciente apresenta um quadro neurológico, sobretudo agudo ou subagudo, pode ser feita uma avaliação por neuroimagem, para avaliar melhor uma eventual anormalidade cerebral orgânica. Portanto, exames como tomografias e ressonância acabam sendo realizados.
Dentre os exames que podem ser feitos para avaliar lesões neurológicas temos TC e RM do crânio, com ou sem contraste (exames que podem detectar AVC, sangramentos intracranianos, trombose, etc).
O uso de contraste nestes exames pode ser algo bastante útil, permitindo uma melhor avaliação na detecção de condições mais específicas, como por exemplo a encefalite (uma “inflamação cerebral”).
Manifestações abdominais
Órgãos sólidos como rins, baço e fígado, também podem ser acometidos pela COVID-19.
Da mesma maneira, ainda que a doença seja marcada principalmente pelos sintomas respiratórios, alguns pacientes demonstram sinais e sintomas digestivos que podem incluir diarreia, vômito e dores abdominais agudas.
O material genético da COVID-19 foi identificado nas amostras de fezes de pacientes que foram infectados pela doença. Além disso, alguns resultados de microscopia eletrônica de amostras de biópsias e autópsias puderam confirmar que houve uma replicação viral dentro do intestino delgado e grosso.
As manifestações do trato gastrointestinal da COVID-19 podem aparecer na forma de gastrite, enterite, colite ou então uma combinação destes fatores juntos. Elas acabam sendo resultado de lesões nestas estruturas que acabam produzindo inflamação ou mesmo isquemia da parede do trato gastrointestinal.
A isquemia da parede do intestino na configuração de macro ou micro trombose arterial ou venosa já foi achada em exames de pacientes com a COVID-19. Há relatos de casos de enterocolite e isquemia intestinal em pacientes adultos e enterocolite hemorrágica e necrotizante em bebês com a infecção.
Alguns dos exames para avaliação do trato gastrointestinal podem ser tomografia, radiografia e endoscopia. Esses exames mostram com detalhes as lesões que o vírus provoca.
Manifestações pediátricas
De acordo com o American College of Radiology, crianças imunocompetentes com mais de 3 meses, em bom estado geral e que não precisam de hospitalização, não são, a princípio, candidatas a fazer exames de imagem.
No entanto, no caso da criança não estar respondendo aos cuidados adequados para COVID-19, pode se fazer necessário a realização de alguns exames de imagem.
Em todo o mundo, os casos de crianças contaminadas acabam sendo mais baixos do que em adultos. Além disso, a infecção da COVID-19 nas crianças é de avaliação mais difícil também devido ao viés de seleção relacionado ao teste. Ou seja, alguns dados como característica epidemiológica, taxa de transmissão e características clínicas das infecções são mais difíceis de serem colhidos.
As taxas de hospitalização em crianças também é menor que as de adultos mais velhos. Isso porque os sintomas são menos graves quando comparados aos sintomas causados em pessoas de mais idade. O motivo disso ainda não está tão claro. Um dos fatores parece ser que a carga viral em uma criança acaba sendo mais baixa do que a de um adulto. Grande parte das crianças que precisam de cuidados intensivos, possuem condições clínicas especiais pré-existentes.
Conclusão
O vírus SARS-Cov-2 rapidamente atingiu proporções gigantescas e resultou em pandemia. Ele tem sido uma das maiores causas de morbimortalidade dos últimos anos, agindo diretamente no sistema respiratório, gerando sequelas e complicações nos pulmões e em outros órgãos do corpo humano.
O exame de imagem é uma das ferramentas no enfrentamento da doença, com o papel de auxiliar no diagnóstico e avaliação de gravidade das lesões induzidas pelo vírus.