Efeito Doppler: o que é e como ele funciona no ultrassom

|24 jun, 2024|Categorias: Diagnóstico|8,8 min de leitura|
efeito doppler

A medicina moderna se baseia em um tripé de uma história clínica bem colhida, exame físico e métodos complementares de diagnóstico. Nesse último grupo, os exames de imagem assumem um papel de destaque. As radiografias, ultrassonografias, tomografias e ressonâncias magnéticas permitem a análise de órgãos e estruturas internas do corpo humano de maneira não invasiva e com muito menos risco e morbidades associadas.

Dentre as modalidades apresentadas, o ultrassom é uma ferramenta interessantíssima por se tratar de um método não ionizante (não utiliza radiação), com alta acessibilidade e relativo baixo custo. Por meio de ondas de som emitidas a partir do transdutor e da análise dos ecos que essas ondas produzem ao interagir com as estruturas do corpo, tem-se a geração de imagens.

Com o avanço tecnológico, houve a incorporação de algumas ferramentas adicionais aos aparelhos de ultrassonografia capazes de trazer informações complementares. Os exames de Dupplex-Scan e Triplex-Scan, incorporam as informações do efeito Doppler às imagens de ultrassonografia tradicional, mudando completamente o entendimento de uma ampla gama de doenças, sobretudo vasculares.

Como esses exames estão cada vez mais presentes no dia-a-dia médico, o entendimento básico do fenômeno físico do efeito Doppler é fundamental para a correta interpretação dos exames de ultrassonografia que utilizam esse recurso. Nesse artigo, falaremos sobre:

 

1. O que é o Doppler


Doppler é uma ferramenta adicional utilizada nos exames de ultrassom, fundamental para a correta interpretação dos exames de imagem que utilizam esse recurso. Pela sua popularidade, hoje é quase impossível encontrar aparelhos de ultrassom que não venham equipados com a possibilidade de imagens com Doppler. Dessa forma, o aparelho no qual se realiza um exame de ultrassonografia de tireoide e um Doppler de tireoide, por exemplo, é essencialmente o mesmo.

Em termos práticos, o efeito Doppler ganha valia na análise de fluxos, ou seja, para avaliar “coisas” que estão se movendo no interior do nosso corpo, principalmente para avaliação da movimentação do sangue no interior dos vasos sanguíneos. Por meio de uma fórmula matemática pode-se estimar se o fluxo sanguíneo está vindo na direção do transdutor ou se afastando dele. Outras informações como velocidade do fluxo, seus índices de pulsatilidade e resistividade são exemplos de outras grandezas físicas que se pode estudar. Sendo assim, pode ajudar no diagnóstico de uma série de condições, incluindo trombose e doença aterosclerótica.

Ao se analisar um vaso sanguíneo, por exemplo, consegue-se a informação do sentido no qual o sangue está fluindo. Um código de cores é atribuído a esse sentido de fluxo. O mais habitual é que fluxos que se aproximam do transdutor sejam representados pela cor vermelha enquanto os fluxos que se afastam do transdutor sejam representados em azul.

O exame de ultrassom com Dopppler não apresenta efeito adverso significativo aos pacientes por se tratar, como uma modalidade da ultrassonografia, de um método não invasivo e não-ionizante, ou seja, que não depende de radiação para a formação das imagens. Apesar disso, como todos os métodos de diagnóstico, esse exame é de indicação médica e sua realização de maneira indiscriminada não traz benefícios aos pacientes.

 

2. Para que serve um ultrassom com Doppler?

ultrassom com doppler


As informações sobre o fluxo sanguíneo foram inicialmente exploradas nos estudos dos vasos periféricos, isto é, das artérias e veias dos membros superiores, inferiores, bem como do pescoço. Apesar disso, as informações do Doppler foram se provando úteis numa grande variedade de condições clínicas de múltiplos órgãos, podendo-se citar o fígado, rins e tireoide como os mais frequentemente solicitados.

Exames de ultrassonografia com Doppler tem um uso bastante difundido também dentro do contexto de urgência, como em Unidades de Pronto Atendimento e Prontos-socorros. O exame é necessário quando há suspeita clínica de que o paciente tenha diminuição do fluxo sanguíneo passando nas artérias e/ou veias dos seus membros. Tomando por exemplo as ultrassonografias vasculares com Doppler, temos estudos venosos dos membros para pesquisa de eventos trombóticos como a trombose venosa profunda e a tromboflebite, e estudos vasculares arteriais para diagnosticar obstruções agudas, aneurismas ou sugerir descompensação de quadros mais arrastados.

Outro ponto importante a ser discutido, diz respeito à inflamação. Tecidos inflamados pelos mais diversos motivos, incluindo processos infecciosos, apresentam um aumento da sua vascularização. Isso também pode ser explorado com uma ultrassonografia com Doppler, sendo um achado auxiliar no diagnóstico de moléstias inflamatórias/infecciosas, como sinovites, apendicites e colecistites agudas.

 

3. Tipos de Ultrassom com Doppler


O médico solicita o exame quando deseja a análise ultrassonográfica de alguma parte do corpo na qual informações da vasculatura local são importantes, como por exemplo:

  • Doppler da tireoide: indicado análise do padrão geral de vascularização dessa glândula, velocidade de fluxo das artérias tireóideas inferiores e/ou superiores e também o padrão de vascularização de nódulos. Essas informações auxiliam no diagnóstico de processos inflamatórios da tireoide (tireoidites) que podem cursar clinicamente com estados de hiper ou hipotireoidismo, bem como auxiliam na avaliação de probabilidade de malignidade (câncer) dos nódulos da tireoide.
  • Doppler do sistema venoso profundo dos membros inferiores: indicado quando há suspeita de trombose venosa profunda (TVP). A TVP é mais frequentemente observada nas veias da coxa e da perna, sendo causa de má retorno do sangue que chega ao membro, gerando inchaço e dor. A complicação mais temida, porém, é que parte desse trombo se desprenda e viaje até a circulação dos pulmões onde pode causar Tromboembolismo Pulmonar;
  • Doppler do sistema arterial dos membros inferiores: permite o estudo da parede e do fluxo dos vasos que levam sangue do coração à ponta dos pés. Condições como aneurismas, ateromatose, oclusão arterial aguda podem ser identificadas através do exame;
  • Doppler do sistema venoso superficial dos membros inferiores: exame de indicação ambulatorial para identificação e mapeamento de varizes e tromboses;
  • Doppler na mama: indicado para identificar a presença de vascularização em nódulos e processos inflamatórios mamários;
  • Ultrassom obstétrico com Doppler: permite o estudo da circulação materna, placentária e fetal durante a gestação. Com essas informações pode-se dentre outras coisas, predizer risco de pré-eclâmpsia e ter dados sobre o bem estar fetal, sobretudo em gestações de alto risco;
  • Doppler das artérias renais: exame indicado na investigação de causas secundárias de hipertensão arterial sistêmica (HAS). Alguns casos de HAS ocorrem em pacientes em faixas etárias não habituais para a doença, outros casos não respondem bem nem mesmo a associação otimizada de várias classes de medicamentos anti-hipertensivos, nesses casos, o médico pode suspeitar de uma hipertensão secundária dentre as quais, figura aquela causada por estreitamento das artéria renais. O Doppler das artérias renais é um exame de realização técnica difícil, mas que permite estudar essas estenoses/estreitamentos das artérias que levam sangue aos rins;
  • Ultrassom com Doppler das carótidas e vertebrais: as carótidas e as vertebrais são os sistemas arteriais que levam sangue para a cabeça. Seu estudo através da ultrassonografia com Doppler permite buscar sinais de placas ateromatosas que podem reduzir o fluxo de sangue distal, ou ainda ser causa de acidentes vasculares encefálicos isquêmicos, quando pequenos pedaços da placa se desprendem e viajam na circulação até um segmento mais distal na cabeça onde obstruem o fluxo de sangue.

 

4. Como se preparar para fazer o exame


O exame costuma ser bastante tranquilo. As recomendações e restrições antes do exame variam de acordo com o segmento do corpo que será estudado. Em exames abdominais, por exemplo, o jejum é uma solicitação frequente para que se reduza a quantidade de gás dentro das alças intestinais que pode prejudicar a avaliação das estruturas intra-abdominais. É importante assim, atentar-se às recomendações enviadas pela clínica ou hospital antes do seu exame.

 

5. Como transcorre o exame

exame com doppler


O Doppler é um método não invasivo e que não expõe o paciente a radiação ionizante. O desconforto do paciente dependerá bastante da condição clínica estudada, por exemplo, ao realizar o exame abdominal sobre a fossa ilíaca direita de um paciente com apendicite aguda, o mesmo sentirá leve desconforto, uma vez que a região encontra-se inflamada, sensível e dolorosa.

O exame deve ser realizado por um médico radiologista ou ultrassonografista, geralmente no setor de radiologia de um hospital, clínica, consultório ou laboratório .

A primeira coisa a se fazer é remover roupas, bijuterias e qualquer coisa que esteja presente na área que vai ocorrer a análise. O paciente então será posicionado na mesa ou cama de exame da melhor maneira para análise da região em estudo. Para que haja interação adequada entre as ondas de som do transdutor e a pele do paciente, é necessário que o médico coloque o gel de contato na área examinada.

A imagem se forma quando o aparelho encosta na pele e é movido sobre ela. As ondas ecoam nos tecidos e órgãos e enviam as informações coletadas de volta ao transdutor. O computador processa esses dados e produz gráficos e imagens que ilustram os fluxos estudados.

A duração do exame varia de acordo com a condição clínica, o número de partes do corpo analisadas, a complexidade dos achados durante o exame e a experiência do médico radiologista / ultrassonografista.

Todos os resultados são disponibilizados na forma de relatório e imagens para o retorno com o médico solicitante, que explica para o paciente os detalhes do exame e o que o paciente deve fazer dali para frente.